Dia Mundial do Doador de Sangue
 

Obrigado por salvar minha vida!

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu em 2005 o dia 14/6 como o Dia Mundial do Doador de Sangue. O objetivo não é comemorar a autossuficiência de sangue. A doação de sangue entra no calendário da OMS como mais um dos problemas de saúde pública, que merecem atenção dos governos pelo mundo e de políticas adequadas de captação de doadores e segurança transfusional.

Desde o aparecimento da AIDS, nos anos de 1980, a preocupação com a qualidade do sangue e com a segurança das transfusões ganhou destaque. Naquela década, no Brasil, cerca de 2% dos casos de AIDS eram transmitidos por transfusão e mais de 50% dos portadores de hemofilia apresentavam infecção pelo vírus HIV. Muito se avançou nessa área. O estabelecimento de critérios clínicos para seleção dos candidatos à doação de sangue e a melhoria dos testes sorológicos, como os testes de ácido nucleico (NAT), conseguiram diminuir a ’janela’ dos testes para agentes infecciosos transmissíveis pelo sangue. O Hemocentro de Ribeirão Preto, por exemplo, dispõe dessa tecnologia desde 2009, bem antes de ela se tornar obrigatória pelo Ministério da Saúde, permitindo detectar a presença do vírus da hepatite C, p. ex., em 12 dias após o doador ter se contaminado, uma redução de 70% em relação aos testes convencionais. Da mesma maneira o teste NAT aumentou a segurança transfusional quanto aos vírus da hepatite B e do HIV.

Contudo, essa tecnologia não está disponível em escala global. Há nações que não conseguem nem mesmo suprir sua demanda pelo sangue – que é diária, ininterrupta e nem sempre previsível. De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) são colhidos mais de 90 milhões de unidades de sangue/dia. Aproximadamente 50% destas doações correspondem aos países de alta renda, embora esses países representem apenas 15% da população mundial. Assim, a doação de sangue tem conotações políticas, econômicas e culturais óbvias que devem ser observadas na elaboração de políticas nacionais de sangue.

Este ano, a campanha tem como foco o doador. Com o lema “Obrigado por salvar minha vida”, a OMS agradece aos doadores e pede que as pessoas doem sangue voluntariamente e com regularidade.Essa é uma questão fundamental. Um dos grandes desafios da captação de doadores é fazer com que o doador volte. Volte a doar. Doe com regularidade. Por quê? A OMS sabe, os governos e os serviços de hemoterapia sabem que, sem uma cultura de doação de sangue, dificilmente se pode vislumbrar um cenário futuro sem a pressão diária para a manutenção de estoques mínimos ou confortáveis de sangue, quiçá a autossuficiência.  

O Plano de Ação Regional elaborado pela OPAS, cujo horizonte é 2019, prevê alcançar 100% de doação voluntária e não remunerada, que é outro problema a ser enfrentado. A doação ainda é paga em muitos países, tendo em vista a dificuldade do abastecimento de sangue pela via voluntária. Segundo a ONU, dos 41 países da América Latina e Caribe, somente 12 não adotam tal prática. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 vedou a comercialização do sangue. Contudo, alguns municípios permitem incentivos para atrair doadores. Alguns criticam leis desse tipo, outros consideram que é uma forma de estimular a doação e não veem nisso uma espécie de toma lá dá cá. A preocupação é que, com a intenção de doar para obter eventual benefício em troca, o candidato omita informações importantes na triagem que possam comprometer a segurança transfusional.

Doar sangue não é um ato cívico ou um dever moral. É um ato de solidariedade. Muitos doadores chegam aos bancos de sangue motivados por campanhas postadas nas redes sociais, porque vivenciam no cotidiano o que é depender do sangue para sobreviver ou são mobilizados por campanhas corporativas. Poucos são aqueles que fazem da doação de sangue uma escolha de ação socialmente responsável. A regularidade tratada nessa campanha passa exatamente pelo papel que a doação tem na vida de cada doador. 

A demanda por sangue não diminui, cresce. Com uma população global que envelhece e que possivelmente vai precisar de sangue em algum momento da vida e com a evolução dos recursos terapêuticos, é necessário garantir o acesso universal ao sangue seguro. Todos estão sujeitos aos desastres naturais, às doenças, aos acidentes de trânsito que mutilam e matam, à violência urbana e aos conflitos regionais que são uma ameaça à saúde pública e à paz mundial.

 

Mariangela Nather é jornalista e assistente de Comunicação Social do Hemocentro RP

 
Responsável / Fonte..:Comunicação Social
Publicado em.......:15/06/2015
 
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